Aqueles relógios digitais espalhados pela cidade de São Paulo são monstruosos. Imagine olhar para um deles e dar de cara com 31 graus piscantes quando você acaba de passar a plaquinha dos 3km sabendo que tem mais 7 pela frente. Correndo. CORRENDO. E o relógio muda da temperatura para o horário: 10:00. Sol a pino e você, trouxa, correndo. Pagou para correr! Poderia estar em casa, dormindo. Aproveitar para acordar mais tarde. Existe sempre um momento em meio à qualquer atividade física em que perguntamos por quê raios deixar de lado a vida sedentária, que é tão cômoda. E é isso: se exercitar sempre vai ser sofrido. Pode ser super prazeroso, mas vai doer em algum momento.
A 23ª Maratona (de Revezamento) Pão de Açúcar foi uma prova de resistência das mais pesadas. Foi a primeira vez que repensei todo esse rolê de corridas no meio do percurso e pensei em desistir de vez. Largada depois das 9h com o sol queimando a alma, percurso pesado e com sinalização ruim, muita gente (principalmente perdida). Tinha também o lado de estar em equipe, correr com pessoas que me acompanham desde o início e a superação de estar em uma prova atípica em comparação a todas que já havia feito. Depois dessa me inscrevi em pelo menos mais cinco provas, porque coerência é uma coisa que não existe na minha vida.
Comecei em 2013, quando ainda treinava em uma academia perto de casa. Conversei com o Ale Scaringi, meu instrutor na época, e pedi sugestões do que fazer para substituir os exercícios de cardio, porque andava meio cansada das aulas aeróbicas. Ele sugeriu a corrida e me montou uma planilha marota. Para me manter focada, me inscrevi em uma prova feminina de 5k. Fui uma pessoa disciplinada e segui tudo a risca, não matava um dia de treino, maaaas cometi a loucura de aceitar ideia errada. Surgiu a tal maratona de São Paulo, que tinha uma opção de corrida de 10k, e voilà, Lidyanne treinando para fazer 5k terminou “estreando” em uma prova oficial com 10k.

Aí todo mundo entende minha relação maluca e nada coerente com a corrida. O problemão é que correr na rua vicia de um jeito que nem sei bem como explicar. Não me importava em correr na esteira, tendo uma boa playlist (um beijo, beyonça) a gente até consegue esquecer a parede verde enjoativa da academia. Só que na rua era diferente. Você corre observando a cidade, conhecendo melhor lugares por onde sempre passou de ônibus ou carro e nunca reparou bem. Tem paisagem, tem pessoas tão motivadas quanto você. E é lindo.
Também já fui como 90% das pessoas que chegam até mim e dizem “nossa, eu não aguento correr nem para pegar o ônibus”. Pois digo: o máximo que eu conseguia era correr durante 60 segundos na esteira. De repente consegui correr 2 minutos sem parar. E então cinco, dez… até completar 35 minutos correndo sem parar. Lembrando que aconteceu com tempo, não foi de um dia para o outro. É bem importante lembrar que condicionamento muda bastante de pessoa para pessoa. Acontece da pessoa estar bem condicionada devido aos treinos que costuma fazer, acontece da pessoa começar a correr do nada e de cara se dar bem. E também acontece de apanhar para conseguir completar um percurso, e isso é bem comum. Mas as pessoas gostam de se cobrar e/ou arranjar desculpas.
Eu sou meio Matthew Inman, corro para comer. Porque comida é uma paixão muito forte, então a corrida veio como elemento ideal para poder “comer sem culpa” (sim, o dramalhão de peso é conteúdo para outro texto, ME AGUARDEM!). Que fique claro, não faço SÓ por isso. Gosto de correr. Desde que adaptei meu corpo a isso passei a encarar como uma distração. Nunca foi uma escolha para perder peso ou ter uma vida mais saudável. Era algo que por um acaso me ajudava a manter meu peso, só isso. E juro que funciona de um jeito mágico, porque alguns minutos de corrida me ajudam a desligar do mundo enquanto ouço umas músicas toscas e não penso em nada sério. Chegar ao nível máximo de exaustão ajuda a anular pensamentos ruins. Dura só o tempo do percurso? Sim. Faz uma puta diferença da mesma forma. Costumo correr pela manhã, e fazer isso me motiva a encarar um dia inteiro.
Então se tem uma dica que posso deixar para todos em 2015 é: coloquem correr entra as metas de 2016. Fácil de fazer, maravilhosa para matar as bads, e ainda te ajuda a ser um pouco mais saudável e a ter mais resistência para sobreviver a um dia ruim 🙂

(A ideia é fazer um vídeo sobre minha relação com corridas em breve, vamos ver se esse vlog acontece em 2016!)