Eu e o desapego, parte 1

Pequeno esclarecimento: isto NÃO é um tratado sobre o desapego pleno. Longe de ser um apelo para todo mundo virar uma pedra de gelo que olha feio para qualquer manifestação de apego. A ideia é trazer algumas experiências que me levaram a entender que o desapego, assim como muitas outras coisas nessa vida, pode ter diferentes versões e como isso me ajuda a encarar a vida.

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Era primavera, e ventava nível ter medo de ser levada. Amsterdã é conhecida pelos seus ventos inesquecíveis de intensos, e é óbvio que pulei essa informação antes de escolher a cidade como destino.  Gente teimosa é uma maravilha, então eu só segurava o vestido ou apertava o casaco e encarava as adversidades meteorológicas. Meu amigo chegou e estabelecemos um objetivo bem claro e fácil: beber. Andar sem rumo pela cidade, desbravar por conta dos nossos pés, sem destinos pré-definidos. O combinado era andar o quanto aguentássemos, parando apenas para beber e comer.  Em um dos bares, depois de algumas heinekens, comecei a fazer dancinhas. O lugar estava cheio? Sim. As pessoas olharam estranho? Creio que sim, mas a memória falha. É de praxe fazer dancinhas (da minha parte), mas eram sempre contidas e de preferência na presença de poucos – ou no máximo dois – amigos. E nunca, ever, jamais em locais abertos e abarrotados de desconhecidos.

Só que Amsterdã me libertou. Amsterdã, Berlin, Antuérpia, Bruxelas, Besançon, Paris. E ele, o álcool. Todos tiveram seu quinhão no meu processo de libertação. Precisei do álcool para me soltar, mas até esse tipo de filtro passou a ser dispensável em um dado momento. Então vai ter a mãozinha caindo pro lado ao som de Groove is in the heart sim, no meio do bar. Vai ter movimento estranho que lembra a coreografia de chandelier em público? Vai sim. Porque é bem simples, embora não aparente – ninguém tem nada com isso.

Bem fácil dizer que não estamos nem aí para os outros, alegar indiferença quando no fundo estamos preocupados com essas opiniões. É a preocupação com o cabelo, com a roupa, se a maquiagem tá legal, essas coisas. Existe a clássica desculpa de “ser uma cobrança pessoal”, e há quem realmente não dê a mínima, mas no geral isso nos afeta sim. Principalmente mulheres, que tem aquela obrigação “social” de se comportar e usar roupas ditas decentes (entre tantos outros preconceitos). Com Vodka ou sem Vodka, vamos dar um basta nessa coisa de ser amado por todos. Ser humano que se preze tem defeitos, é normal, tá todo mundo aí aprendendo a lidar com os próprios demônios. Amigos reais vão te amar mesmo fazendo danças estranhas em público, acreditem.

Amigos de verdade reagem assim
Amigos de verdade reagem assim

Gente, partiu dar gritinho de liberdade? Partiu sim. Todo mundo fazendo a dancinha do foda-se.

Desapeguei de olhares estranhos. Se der vontade de fazer danças estranhas em locais públicos, vou. Se der vontade de abraçar meus amigos de forma ridícula no meio do bar, também vou. Conforme vamos “envelhecendo” passamos a entender que repensar atos de aparência boba é pura frescura. Dá pra ser louco sem fazer mal a ninguém. Se você está lá, na sua brisa pessoal, curta, desapegue sem medo. Vamos todos mandar beijos de luz para todo e qualquer olhar de julgamento 🙂

Sejamos todos Tim
Sejamos todos Tim