Mais um conto da vida adulta

As têmporas latejam. Esses dias em que já acordo com dor de cabeça são os piores. Fica a dúvida se foi a exposição ao celular antes de me deitar, puro efeito de noite mal-dormida, ou alguma virose que se instala aos poucos. Ser adulto é este acúmulo de angústias e incertezas. Uma dor mínima descamba para algo maior sem esforço e toda forma de cansaço parece triplicar sua potência conforme a idade avança. Esses tempos até me peguei pensando se aguento até depois dos cinquenta, pois se já estou neste estado aos trinta, o corpo deve pedir recall ou se desligar por completo a qualquer momento. 

Minhas palavras soam exageradas, até sinto repulsa. Falar sobre o que nos é mais íntimo e um pouco cruel e causa desgosto, visto que só os discursos cheios de floreios ou pontuados por lições de superação são acolhidos com apreço. 

A minha verdade, todavia, é essa. Os adultos me enganaram como ninguém, vendendo uma postura de fortaleza resistente. Enquanto crescia, quase não vi pessoas mais velhas em prantos. Quando percebia alguém chorando na rua, ou no transporte público, notava o quanto a pessoa parecia constrangida. Na minha cabeça inocente a matemática era simples, e envolvia ter uma profissão formal, cumprir horário de trabalho e passar um tempo com a família nas horas livres. 

Os olhos nunca tiveram descanso, o cérebro em constante atividade tampouco, portanto nunca deixei de notar alguns pesos, sobretudo emocionais, que recaíam sobre algumas pessoas da família. No entanto, mais uma vez, os adultos pareciam tomar uma atitude revolucionária e sumir com problemas de qualquer natureza. 

Em algum momento entre os 18 e 19 anos, quando paguei meu primeiro boleto com o salário do estágio, tive meu primeiro estalo de que ser adulto tinha um gosto amargo. Um lado meu se sentiu responsável, auto-suficiente, potente. A empolgação logo esmaeceria, pois uma responsabilidade desta envergadura é carregada de culpa. Na minha cabeça, as inquietudes pipocavam. Conseguiria cobrir minhas necessidades e ainda ter uma grana para o lazer? Seria o salário suficiente? Será que eu era boa o suficiente para almejar uma promoção no futuro ou conseguir um emprego melhor? 

Após sete anos trabalhando como assessora de imprensa, um mestrado e uma carreira tão caótica quanto um temporal, essas questões não só povoam meu cotidiano como me tiram boas noites de sono. 

Será que em algum momento viramos a chave e ser adulto se torna um pouco mais leve?

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