A treta da balança

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Comida travestida de solução para problemas. Já aconteceu com vocês? Comigo sempre. Uma das formas mais fáceis de obter alívio imediato. Não fico calculando nada, vou lá e como qualquer coisa que pareça agradável ao meu bucho e ao fim de todo e qualquer conflito mental. Creio que só de pensar em preencher minhas angústias com comida já ganho pelo menos 1kg. Quando vi este tweet, me peguei rindo da própria desgraça, pois muito real. Me identifiquei, levei na esportiva… mas os amigos que emagrecem nessas situações levaram bem a sério e não gostaram.

Tenho problemas com peso desde os meus 13/14 anos.

Meu maior sonho : ter a mentalidade dos meus dez anos, quando não ligava para nada. Fui uma criança gordinha das mais orgulhosas, dancei sapateado na cara de todos que se uniam para me presentear com o bullying perfeito. Meu único trauma no período foi uma professora de ballet que, após uma aula experimental, disse a minha mãe que eu não poderia fazer ballet pois era muito gorda. Eu tinha cinco anos. Nem pensei em emagrecer, claro, mas passei minha vida inteira evitando qualquer contato com a dança porque rolou trauma, parecia que não era para mim.

Passaram-se anos, embaranguei rude e, no auge dos meus 14 anos, comecei a me incomodar. Era espinha na cara, cabelos monstruosos (era bem assustador mesmo), unhas gigantescas e cheias de cutículas, a bunda do tamanho de uma semana e…a barriga. A barriga transbordando na calça. Vivia de camisetão para disfarçar meu show de horrores pessoal. Com essa idade o bullying ganhou outro tom. Na infância os pirralhos tinham uma puta criatividade para criar apelidos, na pré-adolescência um simples “além de feia é gorda” poderia se transformar em ruína. Percebam a gravidade do julgamento – criança ou adolescente, a gente não tem uma capacidade de filtro muito boa. As críticas nessa faixa etária são muito significativas – deixam marcas em nós que podem nos acompanhar por muito tempo e levar ANOS para cicatrizar.

Comigo não foi diferente – embora eu adorasse posar de durona, séria, a moça que não se afeta com nada! Tanto que fui bem discreta na minha busca por uma nutricionista e ao fazer uma ficha na academia próxima de casa – isso mesmo, academia aos quinze anos, pois seguia com a noia de não poder arriscar qualquer tipo de dança. Virei uma pessoa mais ativa e disposta, aprendi muito sobre alimentação saudável, aprendi a dosar as porcariadas, entendi a importância de manter o corpo ativo – tudo isso sem exageros, entendendo o meu ritmo pessoal.

Com uns 10kg a menos tudo mudou – passei a receber elogios, as pessoas pareciam me enxergar. Isso causou toda uma confusão na minha cabeça oca de jovem, parecia que ser magra era a solução pra ser aceita! Belíssima a embalagem, mas o conteúdo era o mesmo – danificado – de antes. Seguia sendo esquisitona e cheia de problemas, e as pessoas pareciam se forçar a me aceitar só pelo fato de ter me tornado uma coisa visualmente aceitável. Isso cresceu na minha cabeça e desandou legal. Ficar magra virou uma obsessão. Na sequência, alguns anos depois, passei por uma situação de grande stress recém-saída de um relacionamento abusivo e, na tentativa de ganhar peso (sim, a coisa tomou proporções inesperadas e eu não me contentei com os 10kg a menos), desenvolvi uma gastrite. Ter que decidir meu futuro profissional potencializou a coisa e bem, aquelas eram as minhas boas-vindas calorosas à vida adulta.

Porque desde então o negócio degringolou. Engordar significava estar com as taxas alteradas, e comecei a me deparar com “situações limítrofes” constantes entre glicose, colesterol e ferro. 17 fucking anos apanhando pra entender que foda-se a estética, o importante era se sentir bem, pra ter a vida esfregando na cara que aumento de peso tinha deixado de ser um problema externo. Desde então oscilo aí entre 5kg que vão e voltam, exames a cada seis meses pra ter certeza que não preciso me desesperar com números descontrolados.

Pois saibam que tem gente magrinha, seca, bem mais magra que eu, com os mesmíssimo problemas. Sabe qual a treta principal de tudo isso? A ansiedade! Nenhuma oscilação aconteceria – nem perder e nem ganhar muito peso – se essa infeliz não nos perturbasse tanto o espírito.

Então deixo aqui minha dica: quando o coleguinha reclamar da balança – seja pelo número elevado ou reduzido – não seja uma pessoa ruim e sem tato. Ofereça um abracinho e cancele a lição de moral. Tudo que a gente precisa, às vezes, é de um ombro amigo que não julgue a nossa dor – por mais tola que ela aparente. Acreditem.

 

(Sim, isso é uma preparação de terreno pro vídeo de amanhã)