Lidy com isso! #23 – Higher, further, faster e cada vez mais doida

(Publicado em 03 de Abril de 2019 na plataforma TinyLetter)


Com o coração carregando todo o peso do meu corpo, apertei o botão de restart. Me distribuí entre três localidades diferentes porque transformar qualquer canto em lar envolve acumular algumas coisas que parecem insignificantes, mas que juntas ocupam um espaço físico considerável. Carreguei sozinha uma mala, duas mochilas e uma sacola e desembarquei numa cidade que encontrava pela primeira vez. Foi a quinta mudança que fiz sem nunca ter visitado o lugar antes, e mesmo depois de tantas repetições nunca me acostumei, essa é a verdade. Peguei o ônibus torcendo para não ter me confundido com o nome das linhas, sem jeito e já com dores terríveis nas costas, fui recebida por um casal e uma gata que também nunca tinha visto na vida e posso ou não ter ficado um tanto deslumbrada com a cordilheira que se mostrava discreta entre o nevoeiro durante a minha primeira caminhada pelo centro.


Adoro a poesia do recomeço. O frio na barriga de quem não sabe o que esperar, a sensação boa proporcionada pelo novo. Esse modo desajeitado de apreender os códigos e o funcionamento da sua nova morada – ainda mais quando você nunca colocou os pés no lugar em questão. É um tanto assustador, mas a sensação se dissipa com a expectativa do desconhecido. Em seguida tudo isso cai por terra com uma facilidade colossal, quando você abre os olhos em meio ao delírio, tropeça e acaba aterrissando de mau jeito no mundo real. Sou o tipo de pessoa que levanta de um tombo rindo muito e dizendo “tá tudo bem”, mas depois vou ao banheiro chorar de dor.

Tive uma leva de novos assinantes (obrigada, Ize ❤ inclusive assine a news dela e leia o ri.zze.nhas <3) desde a última edição e aproveito a deixa para dar um contexto antes de destrinchar o tema: no segundo semestre de 2017 vim à França fazer um mestrado (na verdade é uma especialização, mas aqui chamam tudo de mestrado) de dois anos. Isso envolvia, para completar esse pacote de emoções que é abandonar a pátria amada idolatrada salve salve, voltar à universidade depois de cinco anos E mudar de área. Uma decisão um tanto dura, mas três bons anos de terapia me deram resistência para aguentar o impacto do tombo. Impossível saber o que me esperava, é óbvio, mas sem a psicanálise eu não teria tido estrutura para encarar o turbilhão de sensações insanas e desconfortáveis que envolve se adaptar a uma nova cultura – mesmo com aquela famosa bagagem que acumulamos de tanto ler, ver filmes e trocar ideia com quem já esteve na mesma posição que você.

O primeiro ano foi todo na universidade e pouco depois de começar o curso entrei para a equipe de estudantes do único museu da cidade. Estava em uma cidade minúscula, com 25 mil habitantes, e queria aproveitar 100% dessa experiência vivendo como uma campagnarde. Falei um pouco sobre em uma cartinha. Foi um período de grandes emoções com direito à crises de riso e muita choradeira, mas com um saldo positivo. Cheguei em Annecy sem preparo algum para viver tudo aquilo que já tinha vivido tão bem – a ausência de contato, a dificuldade em conhecer pessoas, descobrir e me adaptar aos costumes locais, com a cereja do bolo: trabalhar pela primeira vez na vida em uma agência de comunicação digital francesa.

Pausa para a viagem no tempo.

Fui estagiária pela primeira vez em 2010. Nunca tive uma aula de assessoria de imprensa na faculdade de Jornalismo, aprendi tudo durante o estágio e no fim das contas construí meu futuro profissional nesta área. Isso me encorajou, e muito, a escolher um percurso que ia na contramão da persona que construí ao longo de quase uma década no mercado de trabalho. Essa tradição de ser tratado como cocô de pombo por ser estagiário é conhecida (até demais), e com o tempo aprendemos que ela é, na real, comum em qualquer novo ambiente de trabalho. A pessoa pode ter anos de experiência, mas ela acabou de chegar e é como se não conhecesse nada e fosse uma tapada que caiu de paraquedas ali. Rasteira pós rasteira, ou a gente se adapta, ou cai fora. Costuma funcionar assim.

Depois de anos atuando como assessora e pegando uns freelas de redação e de comunicação interna vez ou outra, deixei o ofício de lado e comecei a trabalhar em um museu. Fui vigia (isso mesmo, aquela pessoa que te diz pra não colocar as mãos nas obras e nem tirar fotos com flash) e depois de alguns meses virei mediadora; passei a contar histórias que até então não tinham nenhuma conexão com as minhas. Sempre trabalhei na área de cultura, e afora este detalhe, meu novo ofício não tinha nada a ver com o que havia feito até então. Tampouco com o que pretendia fazer depois do mestrado. Foi, de longe, uma das coisas mais legais que já fiz – sobretudo a mediação, mas isso é assunto para outra newsletter. Uma aventura que não tardou a me deixar à vontade, dado que tudo que envolve cultura e história me é conhecido e foi, na maior parte do tempo, muito acolhedor.

Pois dentro das obrigações do segundo ano de estágio, temos que efetuar um estágio de 4 a 6 meses. Saí procurando França afora (desviando de quase todas as vagas vindas de Paris) e achei essa agência perdida quase em Genebra (Suíça), na região de Haute-Savoie, e cá estamos lidando com o estereótipo do estagiário perdido que só faz cagada mais uma vez!!!!

Minha cara toda vez que alguém fica bufando ou vira os olhos quando abro a boca na agência


(Cada exclamação é uma lágrima)

Não se preocupe, esse não vai ser um longo textão chorando sobre o quanto são horríveis com a pobre estagiária. Mas a pessoa que te escreve por um acaso foi ver a estreia de Capitã Marvel (morta de orgulho da minha amiga pessoal Brie Larson, diga-se de passagem) em uma semana especialmente bosta do estágio e foi como receber diversas mensagens do universo (você não leu errado, este texto começou a ser escrito no dia 9 de março! Persistência é tudo). O filme chegou em um momento perfeito.
 No início do longa, acompanhamos Vers em algumas sequências com Yon-Rogg (Jude Law). Ele repete umas tantas vezes que ela precisa controlar suas emoções para obter êxito em suas atividades. Mais tarde, em outra cena, ela é confrontada mais uma vez por ele e o assunto volta à tona. Ela é colocada como alguém que nunca terá força o suficiente para derrubar outrem e que sempre terminará sucumbindo às emoções, que ela nunca conseguiu – e nem vai – conseguir controlar. Isso me tocou de um tanto, essas duas frases ecoaram ao longo da projeção porque bom, quem nunca ouviu que não era capaz e nunca daria conta de conquistar algum desejo específico em consequência de nossas fraquezas?

A lógica que tenho vivido aqui é bem parecida. Tenho pessoas me testando o tempo inteiro, odeio ser testada e me pergunto se há quem goste. Vivo nessas de tentar balancear a agonia do recomeço com as minhas limitações de base. Conheço bem o meio corporativo, sei, no geral, como me comportar em uma empresa. Tenho tentando adaptar essa perspectiva ao mercado francês, que venho conhecendo aos poucos, porém a estrutura é praticamente a mesma. Superiores, intermediários, estagiários. Porém teve essa história de mudar de área e começar a trabalhar com algo que nunca fiz antes. A barreira nem chega a ser língua, mas a linguagem do meu novo domínio. Falamos digital. De conhecer bem a estrutura de um site, o que funciona, o que cabe no orçamento, quanto tempo demanda de um programador, de um designer, que tipo de abordagem devo usar com um cliente e evitar com o outro… a lista é imensa (sem ignorar os termos em inglês ditos à la française que eu gostaria de estapear quem diz que é um charme porque na maior parte do tempo é impossível decodificar!!!!!!!). E o desafio é entender que preciso desacelerar e parar de me culpar por não saber tudo e por vezes ser tomada por dúvidas que podem soar imbecis para quem está trabalhando com isso há muito tempo.

Sem contar que são franceses, eles certamente vão encontrar uma ocasião para implicar com o seu modo de apresentar as coisas, ou com o seu sotaque, ou com os seus erros de ortografia (ou mesmo na fala) porque eles te entendem, mas sentem necessidade de te corrigir. Não vejo a correção como algo ruim, pelo contrário – toda ocasião é favorável ao aprendizado, ainda mais com pessoas mais próximas e com quem você não sente o menor medo de errar. O que me tira do sério é o tom de deboche – sobretudo quando parte de alguém que mal te conhece. E para não dizer que é mania de perseguição, tenho relatos parecidos de amigos de origens distintas. Não é só comigo.

É fantástico quando um estrangeiro se dispõe a aprender português, ao menos para mim. Acho corajoso, sobretudo por não ser uma língua fácil, tampouco ‘necessária’ como o inglês; quero ajudar, e nunca vi problema no sotaque. O mais importante, ao menos para mim, é se fazer entender. Em qualquer língua. Por vezes me pergunto se não tenho essa perspectiva em consequência da nossa cultura como um todo – temos tantos sotaques diferentes pelo país que acabamos nos habituando com diferentes entonações, escolhemos nossas favoritas, e, ao menos na minha bolha, nunca foi motivo de chacota. O protecionismo com a língua pode ser algo bem absurdo, tanto que uma das minhas diversões é criar hipóteses sobre o que poderia explicar. É medo de algum dia alguém tomar a pronúncia errada do estrangeiro como correta? Receio de deteriorarmos essa língua tão linda (e o pior é que é mesmo)? Medo de potencialmente sabermos mais do que eles (risos)?

A questão da língua virou um ponto deveras sensível. Me peguei em diversas situações preferindo me silenciar a correr o risco de virar piada e isso não é muito saudável. Mas uma coisinha tão pequena e besta me colocou de volta dentro de uma casca e me fez tapar os olhos para as minhas próprias capacidades – que ultrapassam qualquer palavra falada nesse francês meio craquelado.

Como eu me sinto em um dia normal na agência: querendo socar quem me julga na metade do expediente, querendo ME socar na outra metade.


Daí tivemos uma epifania (se é que posso chamar assim)consequente do reencontro com uma das pessoas que me recrutou.

Ela também chegou na agência como estagiária, vinda do mesmo curso que eu, foi efetivada depois e formou-se gerente de projeto digital ao longo de três anos. Ela saiu duas semanas após minha chegada e nos reencontramos na despedida de um dos programadores – pois bem, eu vi 5 pessoas se demitirem em dois meses, o que também não é lá muito animador. Nossa conversa só reforçou o quanto o ‘estereótipo’ do estagiário é forte e chega, inclusive, a falar mais alto que o fato de ser estrangeira. Estar em uma posição “inferior” (com ênfase nessas aspas), em suma, é estar em uma posição delicada em qualquer área. Fica difícil se impor quando todo mundo te encara enquanto pessoa sem credibilidade. Afinal, você é visto pela empresa como alguém sem referências, e por mais que eles adorem o discurso do “seja proativo”, na prática as pessoas dificilmente vão ter tempo. O ritmo frenético da uma agência não permite essas facilidades. Como tiramos força do cu, nos adaptamos, mas em alguns dias é muito frustrante estar nesta posição de ter muita vontade de aprender, de querer fazer as coisas anyway, mas não pode se mover tanto quanto gostaria pois, hierarquicamente falando, você não pode tomar certas liberdades. E mais uma vez: ninguém tem muito tempo para você. 

Cada um sabe a dor e a delícia que é ser estagiário, risos (perdão, Caetano).

Assistindo Capitã Marvel, depois de uma sequência em especial, percebi a necessidade de me apropriar do renascimento da personagem às minhas questões. Vi um filme se passar pela minha cabeça no fim da sessão. Uma película meio chata para quem esta de fora, mas que remonta à infância e captura todos os momentos em que me encontrei de mãos atadas fosse por insegurança, ou por falta de força para responder a agressões verbais gratuitas. Nos silenciamos por medo. De tomar bronca, de se sentir rejeitada, ser demitida, de “errar ainda mais”, de ser julgada. São anos sendo firme com as nossas convicções e opiniões, mas existe sempre aquele lado mais sensível que acaba cedendo e tem, sim, medo de como quem está fora da sua cabeça vai reagir às suas ações.
Meus neurônios vivem num ringue se estapeando ao problematizar absolutamente tudo, e se acrescentarmos como recheio todo esse contexto estagiário+rotina de agência, levantar-se depois de tomar um tombo passa a ser uma missão complexa. Talvez soe superficial demais se basear em uma personagem de filme de super herói, mas Capitã Marvel me passou uma mensagem de força muito significativa. Fez com que eu me lembrasse de tudo que vivi e conquistei nesses 19 meses de França. Cada luta vencida ganhou outra vestimenta e bem poderia montar uma exposição pessoal para admirar cada passo.

Tal qual Carol Danvers, dei voz às minhas emoções e ganhei uma força sobrenatural para me reerguer e mostrar que estou aqui. Tenho em mim um tanto de ingenuidade e alguns medos por encarar um trabalho diferente de tudo que havia feito até então, mas isso não me diminui ou me faz pior que ninguém. Estamos todos no mesmo barco e o mundo seria um lugar mais harmonioso se nos ajudássemos ao invés de nos estapear – ou de tentar dar uma rasteira no coleguinha.

Enquanto esse dia não chega, investimos em exercícios de respiração e tratamos com carinho nossa cota de paciência. A vida vai te pôr em teste o tempo todo, mas não podemos nos esquecer que até mesmo técnicas de queda podem ser aprimoradas. Converse com um amigo ator, ele pode te confirmar. Experiências que adquirimos com o passar dos anos – com o tempo a técnica melhora, a dor passa a ser risível e você se levanta com facilidade. Como se nunca tivesse caído.

 


Andanças #8

Se você acabou de chegar por aqui e não faz ideia do que raios são essas andanças, explico: é meu saudoso lado #blogueirinha falando mais alto. Listo as coisas que li, assisti, ouvi e senti entre uma newsletter e outra. É uma forma de brincar de diário como fazia outrora, nos tempos de blog, e de quebra passar algumas dicas legais. Tire os sapatos, pegue um café (ou um chá), encontre um cantinho confortável e venha comigo! 🙂

Tô assistindo: A ausência de vida social me foi bem favorável em termos de Andanças. Vejo pelo menos um filme por semana (mentira, são pelo menos dois ou três)

– às vezes passava quase um mês inteiro sem ver nada. Em compensação larguei um pouquinho as séries. Sem culpa. Senti falta de ter essa constância cinematográfica, coisa que consumiu boa parte da minha rotina durante anos e que abandonei depois de um trauma relacionado a uma experiência profissional frustrada (que também poderia ser assunto para outra cartinha). Fiz uma lista de tudo que assisti e darei meu melhor para resumir em poucas linhas (lembrando, claro, que é meu ponto de vista e ele pode ser completamente diferente do seu E TÁ TUDO BEM!!!).

Green Book – Esse filme tirou uma com a minha cara. Fiquei super envolvida do inÍcio ao fim, mas quando subiram os créditos comecei a me questionar – qual é o propósito de fazer um filme tão raso sobre um assunto tão sério? Clássico caso de filme passa-pano para branco. Porém vale conferir por Mahershala Ali (eita HOMÃO) e Viggo Mortensen que manda bem demais e nunca decepciona.
Suspiria – Que loucuraaa essas bruxas, e o sangue, e esse coloridão doido e nada parece fazer sentido mas ao mesmo tempo é tão impressionante que teus olhos não desgrudam da tela. Estranhão, mas gostei.
La Dernière Folie de Claire Darling – Os franceses tem um jeito muito sutil de lidar com a memória e a perda. E bem ao modo deles. 
The house that Jack Built – Eu amo Lars Von Trier debochado e tirando uma da própria cara. Ele se homenageia e logo em seguida cria uma sátira em cima de alguma crítica feita a ele. É genial e o Matt Dilion é ótimo.
A Star is Born – Gosto da Gaga (e você arrasou, amiga) mas para mim não rolou. Detestei as músicas e a direção de Bradley Cooper me deu vontade de sentar num cantinho e bater com a minha cabeça 30 vezes contra a parede por insistir em perder meu precioso tempo com essa chatice em formato audiovisual. A atuação dele, por outro lado, é ótima. Excelente método contraceptivo, por sinal. Saudades da Gaga dos tempos de The Fame, e ela deveria ter recebido um Oscar pelo clipe e pela apresentação de Til it happens to you na premiação, que é mais preciosa que A star is born inteiro.
Roma – Este filme é um exemplo muito bonito sobre o quão horrível é ser mulher. Digo isso porque a fotografia é, de fato, impecável, e não tem um detalhezinho que apareça por acaso na montagem. Tudo é planejado para que você sinta um pouquinho do que é ser Cleo (Yalitza Aparicio me deixou sem palavras) – uma missão nada fácil e muito dolorida. Para repensar um pouco o papel de outras Cleos na sociedade.
The Favourite – Nunca tinha visto nada do Yorgos antes (sem julgamentos, tá na lista) e gostei do climão esquisito e dessa forma escrachada de retratar a realeza. Mas recomendo assistir sobretudo pelo MMA de boas atuações proporcionado por Olivia, Rachel e Emma. So mulherão da porra dando show de atuação, gostamos assim.
Ralph Breaks the internet – MARAVILHOSO e ainda melhor que o precedente, fiquei apaixonada por cada detalhe desta animação. É divertido e sem exageros, além de passar uma mensagem tão simbólica sobre o quanto nossas inseguranças podem nos quebrar as pernas e sobre o valor das verdadeiras amizades. E o quão difícil (porém necessário) é deixar espaço para que pessoas que nos são muito queridas possam crescer longe das nossas asas.

Can you ever forgive me? É um bom filme. Gosto da montagem e de como a história se desenrola, Melissa Mccarthy esta ótima. Gosto também de como o tema dialoga, em certos termos, com A Esposa: mulheres talentosas e inventivas que são silenciadas ou que não podem se colocar em evidência por n motivos. O filme mostra, de uma forma bem dura, as dificuldades em se manter estável no mercado editorial.
La Chute de l’Empire Américain – A premissa é a mesma dos outros dois filmes da trilogia, mas bem, ele nunca será As Invasões Bárbaras, mas tem seus pontos fortes e não deixa de ser um enredo que prende sua atenção e te deixa instigado até o fim. Mas tem algo nele que ficou meio nebuloso para mim. Vai ver foi o famigerado contratempo com a língua – não nego nem afirmo que perdi algumas coisas porque o québécois nem sempre me é acessível. 
Black Panther – É uma vergonha ter perdido essa joia nos cinemas. Filme de super herói, sim, mas super político e intenso pra caramba. Elenco impecável (e lindo!!) e uma trilha que merece todos os prêmios do meu coração.
Captain Marvel – Amo minha capitã e vou protegê-la até o fim dos tempos. Deve ter muita falha técnica e vários erros, mas meus olhos simplesmente não conseguem percebê-los pois estou presa e encantada demais pela narrativa e com o quanto a protagonista respondeu às minhas dores no momento em que assisti ao filme.
Sibel – Vida social ausente e esse privilégio de encher o tempo com todo tipo de filme possível – desde um comercial tipo Capitã Marvel até um filme turco (co-produção francesa, mas ainda assim) rodado num vilarejo turco onde as pessoas se comunicam usando uma linguagem… de assovios. A protagonista é um absurdo, sai da projeção impressionada com o quanto a moça conseguiu comunicar com o corpo e suas expressões visuais. Ela responde muito bem ao desafio de expressar tudo aquilo que ela não pode dizer por ser muda. Além de trazer um recorte da sociedade turca, que conheço tão pouquinho. Bem interessante.
Dumplin’ – Vi numa tarde de domingo para passar o tempo e é uma gracinha. Ele não se aprofunda sobre o tema (é uma comédia!! Respeitosa, diferente de Green Book, por exemplo), mas fiquei feliz demais em ver duas protagonistas gordas (gorda não é xingamento, só para lembrar) tão fortes e carismáticas. Feel good movie total.
Mon Bébé – Eu sei, é da diretora de Lol (esse mesmo, com a Miley Cyrus de protagonista), mas é bem melhor. Chorei de rir e fiquei sentida pois conta a história de uma menina que vai fazer intercâmbio e mostra o quanto a mãe tá sofrida com isso (imagina se vi alguma semelhança?). Comédia leve e super descontraída. Adoro o trabalho da Sandrine Kiberlain e poderia assistir qualquer filme com ela no elenco.
Us – Uma colega da faculdade cunhou o termo “surra de bunda mental” e ele define muito bem a experiência de Us. É porrada atrás de porrada e temos Lupita protagonista dando aquele showzaço de atuação como de costume. É sorte demais poder ver uma mulher tão incrível em um filme maravilhoso desses na telona. Recomendo a leitura da crítica que a Anna fez para o filme e adoraria continuar conversando sobre ele (fica o convite!).
Swiss Army Man – Meus amigos passaram um fim de semana comigo e na noite de sábado estávamos jiboiando por motivos de ressaca e um hamburger monstro. Decidimos ver um filme e ficar na paz em casa, gastamos preciosos minutos en train de basculer a lista da Netflix e nos decidimos por essa joia. Nada faz sentido e todas as cenas da Mary Elizabeth Winstead no fim do longa resumem minha opinião sobre ele (assista, vai que você gosta).
Let’s Dance – É tão ruim que chega a ser legal. O elenco é composto por pessoas que claramente dançam há anos e mandam muito bem, mas nunca atuaram. Porém nem tudo esta perdido: a vó da protagonista é a coisa mais fofa do mundo e uma das suas únicas falas dela no filme é linda demais.
Rebelles – É tosco de doer, adorei. Se não tivesse tanto tiro e sangue, seria o tipo de filme que passaria na sessão da tarde dos franceses (caso eles tivessem algo parecido).
C’est ça l’amour – Conta a historia de um homem lidando com o divorcio e as duas filhas adolescentes ao mesmo tempo. É daqueles filmes levinhos onde pouca coisa acontece e tudo repousa nos pequenos detalhes. 

Tenho voltado aos poucos ao universo das séries pós trauma de You. Assisti a francesa Dix Pour Cent, que é maravilhosa e me fez chorar de rir – e ficar um tanto apavorada com o ambiente de trabalho francês. Trago noticias – apesar de todo o charme da ficção, nesse quesito a série não mente. Funciona daquele jeitinho mesmo.

Terminei a terceira temporada de Queer Eye e de Santa Clarita Diet. Amo o abraço gostoso que é Queer Eye, uma das minhas feel good series favoritas. Amo o quanto os meninos são queridos e o quanto as pessoas se transformam e passam a se sentir mais confiantes depois da “transformação”. Gosto do quanto eles respeitam o estilo e as crenças de cada personagem, fico chocada com o quanto Bobby trabalha e é quem mais “entrega” resultados entre os cinco, mas o trabalho do Karamo nesta temporada foi sensacional. Chorei com todas as sequências dele.

Santa Clarita Diet é minha série amorzinho, por mim pode ter 10 temporadas que nunca vou me cansar. É um humor tão escrachado e maravilhoso, amo os personagens e amo ainda mais a Drew, rainha ❤

Tô lendo: Voltei a ser traça, que alegria viver!!!! Desde o inicio do ano já coloquei 8 livros na lista de lidos. Como a lista dos filmes ficou gigantesca, deixarei para falar mais sobre as leituras destes primeiros meses de 2019 na próxima edição 😉 

I’m every woman, de Liv Strömquist 
Pedro Paramo, de Juan Rulfo
Todo mundo merece morrer, de Clarissa Wolff
Tanguy, de Michel del Castillo
A vegetariana, de Han Kang
C’est Moi, de Marion Guillot
Malgré tout la nuit tombe, de Antonio Xerxenesky
The Seas, de Samantha Hunt

Tô ouvindo: Esta princesa segue ouvindo uma quantidade fora do comum de Anderson Paak. E depois de Captain Marvel a Lidyanne adolescente não resistiu à viagem no tempo e me peguei revisitando as músicas que ouvia feito maluca quando tinha meus 14 anos (saudades…faz tempo….). A Carol fez uma playlist com a trilha, apreciem sem moderação. Dei check no disco recém-lançado da adolescente-febre do momento, Billie Eilish, WHEN WE ALL FALL ASLEEP,  WHERE DO WE GO? (em caps loka mesmo) e descobri que caso tivesse talento e decidisse investir com a idade dela, seguiria a mesma linha. Era excêntrica, meio gótica e esquisitona como ela aos meus 15 anos. Ainda bem que me faltou talento, não é mesmo? Provavelmente estaria assustando jovens por ai até hoje. É um som adolescente, mas o trabalho dela tem uma potência que me pegou de jeito e me fez ouvir o álbum umas tantas vezes nesses últimos dias. E que voz, amigos! wish you were gay, xanny e when the party’s over são as minhas favoritas.


Para não dizer que esta mulher tem se alimentado só de descobertas do hip-hop (sobretudo francês, o que tem acontecido comigo????), também tirei um tempo para ouvir Angèle (que é irmã dele mesmo, Roméo Elvis) e estou encantada. Ela tem a voz doce e poderia passar fácil por mais uma cantora pop chatinha, mas as letras abordam temas importantes de uma forma muito sutil. Ela é jovem e seu álbum de estreia traz um pouco de todas as questões que habitam o cotidiano de uma garota da sua idade – a forma como as nossas amizades evoluem, lidar com sentimentos, nossa relação com as redes sociais, ciúmes, machismo, orientação sexual e essa busca por algo que nem sabemos o que é (mas às vezes disfarçamos dizendo que é felicidade, le spleen n’est plus à la mode, c’est pas très compliqué d’être heureux). Não por acaso o disco se chama Brol, que significa BAGUNÇA. Não poderia me identificar mais. Ela engana – de longe parece superficial, mas vai te fazer repensar muitas coisas. E bem, sou da escola Belle and Sebastian, que me ensinou a dançar sobre a própria dor. La thuneLa loi de Murphy, Ta Reine e Tout oublier são as minhas favoritas.

Tô visitando: A mudança nos faz sossegar! É mágico! Porque toda grana é destinada ao cheque calção, aluguel e coisinhas que precisamos para ter um cantinho harmonioso e que atenda às nossas necessidades. Fiquei quieta em Annecy e tirei este primeiro mês para explorar cada cantinho, saber onde ficam as feiras, essas coisas básicas. Escapei para Torino duas semanas atrás junto com uma amiga da escola (veja bem!! uma das poucas que sobrou!!) e foi a primeira vez que estive na Itália. Foi deveras acolhedor: mal cheguei e já me surpreendi com o quanto as pessoas falam alto, me deparei com vários bares e restaurantes com preços acessíveis, gianduia, pasta e Aperol em cada esquina e uma cidade que é um charme. Agora entendo o dolce far niente e a forma como ele fez com que eu me sentisse em casa. Conhecer um pouquinho de outra cultura e colocar a conversa em dia com uma amiga de longa data era tudo que eu precisava depois desta porrada que foi o começo do estágio. Ah, Torino possui um Museu do Cinema que é um encanto, poderia passar uma semana inteira lá dentro. Se você tem vontade de viajar pela Itália, considere colocar Torino na lista. 

Tô sentindo: Nervoso, por que não? Não vou me prolongar muito neste ponto, a newsletter foi toda sobre isso. Sofro um pouco para lidar com as inseguranças e esse stress diário que me impede de encarar tudo com serenidade. Mas aos poucos vou encontrando meios de não me afetar tanto. E enquanto não acho solução, aproveito cada minutinho que vá na contramão das agonias. Dois amigos de Montbéliard vieram me visitar no mês passado e foi uma delícia ter tanto amor, mesmo que fosse por um breve fim de semana. A maravilha que é poder falar à vontade sobre qualquer tema com quem a gente tem intimidade! Poder abraçar, rir junto, tomar um sorvete em um dos primeiros dias de temperaturas mais altas do ano, fazer coisas bobas como andar de pedalinho nesse lago ridículo de lindo de Annecy. Depois de quase dois meses lidando com silêncios constantes, foi um alívio.


Et c’est tout por hoje! Obrigada pela leitura, pelos comentários carinhosos, e não se esqueça que este canal segue aberto para conversarmos. Bisous e bom restinho de semana 🙂

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